MORTE. FÉ. RESSURREIÇÃO.
Pensar no último estágio da vida para muitas pessoas é algo
amedrontador, penoso, angustiante. Morrer é dar adeus aos prazeres que apenas o
corpo pode experimentar em vida: o perfume das rosas, o vento balançando as
copas das árvores e passando pelo corpo, o doce som das ondas do mar, o calor
que aquece o corpo quando o sol está brilhando, o sabor do sorvete, do bolo, da
macarronada... Nada disso a morte pode dá a alguém. Para alguns a morte é
descanso, para outros, sofrimento; para muitos, o fim de tudo.
É interessante refletir sobre esse momento, especialmente nestes dias em
que muitas pessoas estão morrendo e apenas aguardando a cremação do corpo:
carne e osso tornam-se cinzas, pó. Um corpo após o outro alimentam a sede do
fogo. Mais interessante ainda é pensar que após a morte, não somos mais
reconhecidos pelo nome, mas pelo “corpo de” ou “as cinzas de”. A solidão da
morte é o último momento em que deixamos de “ser” para ser “para sempre”.
Na tradição reformada da igreja de Cristo, um dos elementos de unidade
da igreja, o credo apostólico, diz: “Creio [...] na ressurreição do corpo e na
vida eterna, amém”. O apóstolo Paulo, tratando sobre este tema em sua primeira
carta ao povo da cidade de Corinto, disse: “Mas de fato Cristo ressuscitou
dentro os mortos, sendo Ele as primícias dos que dormiram” [1Co 15.20].
Acreditar na ressurreição é um ato de fé. Possivelmente, a parte mais
difícil neste processo é conceber pela razão que aquilo que era não é mais, mas
tornará a ser de novo. No entanto, não é possível conceber plenamente através
da razão, a ressurreição do corpo, sendo esta apenas uma aproximação do nosso
ato de fé, um vislumbre da vida futura na eternidade.
Tenho convicção de que muitos questionamentos sobre este tema são
suscitados em períodos amargos como estes que temos experimentados. Gostaríamos
de saber o porquê, explicar as razões para tal desordem – ou, retorno à ordem,
mesmo que na base da força e do medo – entretanto, embora já haja formulações é
muito cedo para se colocar os “pingos nos is”.
Por esta razão, se não é tempo para formular, objetivar ou buscar
respostas, é tempo de crer. Tempo de aproximar-se daquele que experimentou o
desespero e angústia da morte [Mt 27.46], mas ressuscitou para provar ser maior
que a morte. Sendo assim, podemos crer através do texto profético: “Destruíra a
morte para sempre; O soberano, o Senhor, enxugará as lágrimas de todo rosto
(...) [Is 25.8]”.
A vida eterna começa neste corpo mortal e se estenderá por toda
eternidade, transcendendo as dores desta vida, deste mundo. E para que possamos
vislumbrar este “celeste porvir” é necessário crer. “Felizes são os que não
viram e creram” [Jo 20.29].
Pax Christi, Rafael Mota.
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