A PRÁXIS DO AMOR: REVELAÇÃO, REDENÇÃO E SALVAÇÃO


Todo ser humano está sujeito à doença, velhice e à morte. Porém, inicialmente os seres criados estavam numa condição de bastante conforto: habitavam no paraíso; o próprio Deus passeava pelo jardim; eram semelhantes à imagem de Deus; é possível imaginar ainda, de que modo tudo se encaixava e mesmo a nudez de Adão e Eva não causavam estranheza um ao outro. Pode-se dizer, portanto: tudo era perfeito. No entanto, talvez pela preguiça de não querer ser a imagem e semelhança do Divino, ou pelo orgulho da Serpente de querer ser igual a Deus, o homem (e a mulher), uniram-se (ou caíram) num erro terrível, que resultou no pecado à raça humana, maldição, sofrimento; e, sobretudo, a expulsão da vida “calma, serena e tranquila” do Éden.

O pecado atingiu toda criação [Rm 3.23]. Todos estão destituídos de tudo que possa se relacionar com Deus [Rm 3.10-12]. Aliás, a ideia de um Deus – soberano, onipotente, onisciente, onipresente, gracioso, que está conosco em nossos afazeres diários, mas que habita fora do tempo, na eternidade – nos é, por muitas vezes, estranha. Logo, aclarando um pouco as névoas que se formam em torno de nossas dúvidas, pretendo refletir de forma breve, o seguinte: 1) De que modo o amor de Deus, revelado no envio de Jesus, tem importância para nossa vida? 2) Qual é a razão do amor de Deus?
É comum ouvirmos: “Deus é amor”. Sim, isto está certo, pois de fato Ele é! Porém, enxergar Deus apenas por esta perspectiva é restringir tudo aquilo que Ele Fez e Faz. Portanto, a minha proposta é: qual é a importância desse amor em nossa vida? [Rm5.8] Sim, a resposta dessa pergunta muda completamente o sentido de nossa existência. Saber que Deus é amor é uma coisa. Entender que Deus é amor é outra coisa. Viver o amor de Deus é ser uma nova criatura [Jo 3.16], “pois as coisas velhas passaram e tudo se fez novo” [2Co 5.17]. Nessa nova vida, onde tudo é novo, o entendimento do que é o amor e do que ele é capaz de fazer, é transformado por uma pessoa: Jesus. [Rm 12. 9-18].
As Escrituras apresentam Cristo como “Aquele” que viria para redimir toda criação decaída [Is 40. 10,11; 42. 1-4; 61 1-3; Zc 9. 9,10]. A partir do sacrifício de Jesus, o amor de Deus não está mais no campo do sentimento, da subjetividade. Passa agora à práxis [Jo 1. 1, 14-18]. O fato de verbo se tornar carne resignifica a compreensão do amor de Deus. O amor encarna, habita; e, os que viveram na palestina, Judéia e Galiléia do Séc. I d.C, o viram. Cristo (e seus discípulos) não eram estáticos: caminhavam longas jornadas; trabalhavam por horas e horas; curavam, libertavam, realizavam milagres [Jo 4.3, 4; Mt 10. 5,6; Lc 10.1].
O estudo semântico nos mostra que o verbo, entre outras coisas, indica ação. Retomando a ideia de João de que verbo se faz carne, representa uma ação transformando-se de modo a tornar-se visível: a revelação. Ou seja, o amor de Deus nos é apresentado em forma humana. Melhor dizendo, na forma de uma pessoa: Jesus. [Cl 1.15; Fp 2.8; Jo 3.17]
À vista disso, podemos agora dar resposta ao primeiro questionamento: o amor de Deus, revelado em Cristo, compele-nos a agir. Faz ressurgir a motivação pela vida. Nos desperta e coloca-nos novamente no eixo [2Co 5.17; Ef 2.13]. Isso não significa que deixamos de amar ou de sentir amor, de forma subjetiva, digamos. Entretanto, o amor não permanece mais estático.
Olhando à nossa realidade, às vezes, esperamos pelo bom emprego, bom casamento, bom salário; enfim, pelo que julgamos ser bom para viver, quando na verdade falta-nos agir. Portanto, o amor de Deus revelado em Cristo, nos retira da mesmice e coloca-nos de pé. De nada adianta crer que Deus é amor e não amar o meu próximo; não perdoar quem me ofendeu; não ajudar os necessitados. O amor que faz crescer apenas o meu ego, não é o amor revelado em Cristo [1Jo 2. 3-5]
O que nos torna diferentes do mundo não é fato de amarmos mais ou menos, mas a nossa referência do que é o AMOR [Jo 3.16; 1Jo 4.8]. Para nós o amor é mais que é amar, é se entregar, se doar, se sacrificar. O amor permanecerá mesmo quando tudo findar [1Co 13. 13]. Certamente, o amor de muitos esfriará, mas que nós estejamos sempre nos movendo neste amor [2Tm 3. 1-4; 1Pe 4.8].
Passo agora à segunda questão: Qual a razão do amor de Deus? Podemos compreender Deus através dos seus atributos: amor, graça, misericórdia, benevolência, entre outros. Certamente, explicar a razão do amor de Deus e afirmar que todas as palavras são plenamente verdade é uma heresia, pois a compreensão humana não é capaz de conceber a totalidade da razão do amor de Deus. Portanto, é apenas um “ponto” para nossa reflexão.
Só podemos compreender o que é amor, porque temos alguma noção sobre o que não é amor.  Não (amor) é a vingança, maldade, perversidade. Amor, em contrapartida, é perdão, misericórdia, ternura [cf Gl 5. 19-23]. Porém, como entender o amor de Deus, se Ele: entrega o próprio Filho - pra morrer - uma morte torturante. Parece contraditório, não? Apenas parece.
O apóstolo Paulo nos explica que Ele foi feito pecado por nós [2Co 5.21]. Cristo, em sua natureza divina, não poderia nos redimir. Era necessário mais. O envio de Cristo, despindo-se de tudo que o tornava semelhante a Deus, revelando-se humanamente, não o tornou pecador, mas igual a mim e a você em nossos sofrimentos. Jesus não pecou. Mas se compadeceu do pecador. Jesus não deixou de pagar os tributos, ao contrário cumpriu com seu dever de cidadão; Ele não veio condenar o mundo, mas salvá-lo [Mt 20.25; Jo 3. 17]
Portanto, a razão do amor de Deus, está no fato dEle desejas que todos nós conheçamos a Jesus Cristo e através deste mesmo Jesus, possamos fazer o caminho de volta à imagem e semelhança que possuíamos antes do pecado entrar no mundo [Gn 3; Rm 5. 15-17]. Desta forma, nós podemos participar desse amor a partir do momento que aceitamos a Cristo como único e suficiente salvador [Jo 1. 12, 13].
Ciente de que não somos o centro do amor de Deus, o que nos resta fazer? Aceitar desconsolados? Não, não é por aí. Nós jamais poderíamos redimir o próprio pecado. Cristo fez isto por nós. A nossa dívida celestial está paga e o reconhecimento deste amor é a gratidão de ter em Cristo, uma nova vida e um novo sentido para viver [2Co 5.17].
A nossa geração clama por sentido e pelo sentimento de paternidade. São filhos que carecem do amor de suas famílias; familiares e amigos que lhes esclareçam suas dúvidas. Paira sobre essa geração um forte misto de ignorância e raiva com o sagrado (independente da religião). Contudo, podemos e devemos propagar o amor. Amor que nos alcançou e alcança diariamente. Este amor que se fez carne; é lembrado como cordeiro; e, o aguardamos ansiosamente como Leão. Nós, a igreja de Cristo, devemos antes de julgar e retaliar: ouvir, amar e orar pelos que estão ao nosso redor. Afinal, tudo se fez novo em nós.

Rafael Mota.
Pax et Bonum.

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